terça-feira, 20 de setembro de 2011

Hearts and Minds (1974)

Foto 1 - Cena clássica que vem a memória quando se fala da Guerra do Vietnã. A criança nua, no centro da imagem, é Phan Thi Kim Phuc que fugia do seu povoado que acabara de ser bombardeado por Napalm.

A Guerra do Vietnã é um tema recorrente na filmografia norte-americana. Ela está presente em filmes direcionados apenas ao assunto, como é o caso de Platoon (1986), Nascido para Matar (1987), Apocalypse Now (1979) – de onde não sai da minha cabeça aquela cena com a Cavalgada das Valquírias -, ou longas que tocam no acontecimento histórico, como Hair (1979) e Forrest Gump (1994), apenas para citar alguns. No entanto, este post é dedicado a ‘Corações e Mentes’, um documentário premiado com o Oscar de 1975.

Mais uma vez, a sociedade ‘guardiã’ da democracia é mostrada manchada por seus atos irresponsáveis e criminosos. Na dinâmica da Guerra Fria, os EUA passam a intervir no Vietnã com medo de que a ‘teoria do dominó’ se concretizasse. Essa teoria imaginava que o sudeste asiático estava enfileirado tal como peças de um dominó, e que se apenas uma peça cedesse ao comunismo, todas as outras seriam abaladas. Diante da eminente vitória do líder comunista Ho Chi Minh, via pleito eleitoral em 1956, o governo do presidente Eisenhower deu respaldo a um governo ditatorial, mas com pretensões capitalistas no Vietnã do Sul, ante um governo comunista no Norte.

É incrível como o documentário consegue captar o grau de alienação da população estadunidense. Em uma dada entrevista, alguns não conseguem nem ao menos indicar qual dos dois ‘vietnãs’ é o de tendência comunista ou capitalista. Na verdade, a lógica de dominação das mentes pela ideologia da grandiosidade americana é uma constante na película. Alguns nem mesmo sabem o porquê de ir à guerra, apenas vão porque foram ensinados a ir. Mães que se orgulham de ter um filho morto na guerra quando na verdade não há motivo para tanto, já que a verdadeira razão de orgulho já não existe mais. Estima-se que pelo lado americano foram 58 mil baixas, sem contar o número de mutilados, e pelo lado vietnamita, o valor é impreciso, mas fica entre os aterradores 1 e 3 milhões.

Outro elemento impressionante é o discurso de superioridade dos combatentes e da população dos Estados Unidos, onde o adversário era tratado como inferior, primitivo e irracional. E ainda havia os que diziam não se importar com o que ocorria no país asiático, pois o seu estilo de vida não tinha sido afetado e que aquilo não o atingia. Bem, o que essas pessoas diriam após o 11 de setembro?! Além disso, fica candente o afastamento dos combatentes que por realizarem um trabalho totalmente afastado do resultado final, nem imaginavam as consequências dos seus feitos, até serem deparados com a realidade. Vale salientar, que os mais modernos e cruéis meios de destruição, para a época, foram utilizados pelo exército americano, tais como, as bombas de napalm e fósforo branco, além de armas químicas como o agente laranja.

‘Corações e Mentes’ é um excelente documentário que mostra desde a introdução da ideologia americana (leia-se ideologia como crença incutida e tida como única e, por isso, verdadeira), principalmente, pelos discursos feitos pelo George Coker, ex-prisioneiro de guerra, passando pela apatia e desconhecimento da população, até o cinismo dos presidentes americanos que governaram o país durante a guerra. Além disso, mostra a perspectiva e o ponto de vista dos vietnamitas, coisa rara em produções americanas, mostrando inclusive, com cenas fortes, o pesadelo que eles viveram, mas sempre resistindo e no final, saindo vencedores. É um pedaço da história que sempre precisa ser revisitado e ver o documentário é uma experiência que vale a pena.
-------------------------------------------------------------------------------------------------
Hearts and Minds (Corações e Mentes), Estados Unidos, 1974. Dirigido por Peter Davis. Com: J. William Fulbright, Georges Bidault, Clark Clifford, George Coker. 112 minutos. Gênero: Documentário/Histórico.

Nota: 10.0

domingo, 11 de setembro de 2011

Good Night, and Good Luck. (2005)

Foto 1 - David Strathairn como Edward R. Murrow

Essa semana, após uma aula de apresentação da disciplina, o professor que falava das variações institucionais entre vários países pelo mundo, resolveu falar sobre os cargos mais importantes dos Estados Unidos. Ele citou, em ordem de importância, o Presidente da República, o Presidente da House of Representatives, e em seguida, os Presidentes das Comissões Permanentes (Committee) da House of Representatives. Em seguida, ele olha para mim, aponta para mim, e pergunta: Qual a primeira coisa que vem na sua mente, quando alguém lhe fala sobre o Macartismo? Após um breve delay, e dele reafirmar, que estava falando comigo, e eu responder que sabia disso, eu disse: ‘a política de caça aos comunistas nos E.U.A.’.

Esse fato fez um amigo perguntar-me se eu já tinha visto um filme, recente, que tinha essa temática, e eu disse que não. No momento, ele não se lembrou do nome, apenas um pouco depois, quando já conversávamos com uma amiga. Eis que o filme era o ‘Good Night, and Good Luck.’. Uma opinião precipitada, principalmente, advinda de pessoas simpatizantes de filmes com muitos efeitos especiais e uma carga insuportável de ação, logo pensaria: Que filme chato, monótono e, além disso, em preto e branco! No entanto, eu diria que essa é uma definição impensada e simplista de um longa que se sustenta pelo seu roteiro, e nos seus diálogos rápidos (às vezes até demais) e interessantes.

É muito bem explorada na película a histeria anticomunista que tomava conta dos Estados Unidos no pós-2ª guerra mundial. Em muitos casos, como fica evidenciado, as acusações eram feitas sem nem mesmo haver provas definitivas do envolvimento de cidadãos americanos com Moscou. No filme, essa paranóia fica resumida na sua figura mais candente – a do senador Joseph McCarthy. Ao se considerar um cidadão traidor, já que o possível ato era considerado antipatriótico – as pessoas eram submetidas à inquéritos, e tinham suas vidas devassadas. Além disso, muitos eram levados ao exílio, condenados à pena de morte, à miséria ou ao suicídio (como se mostra no filme).

Com um elenco que conta com atores/atrizes interessantes, o destaque vai mesmo para o David Strathairn que interpreta muito bem o jornalista Edward R. Murrow. Ele que foi um ferrenho opositor das táticas empregadas pelo Senador que estimulava a delação, e o desrespeito às liberdades constitucionais dos indivíduos. Após uma série de críticas, e a indignação da população americana (que demorou muito), McCarthy teve seus últimos dias no ostracismo, e representava uma vergonha para a opinião pública do país. Ele é um exemplo, do que a manipulação de mentes pode ocasionar, mesmo em um Estado, onde os indivíduos se orgulhavam dos seus direitos políticos e civis idealizados como invioláveis e sacros.
-------------------------------------------------------------------------------------------------
Good Night, and Good Luck. (Boa Noite, e Boa Sorte.), Estados Unidos, 2005. Dirigido por George Clooney. Com: David Strathairn, George Clooney, Robert Downey Jr., Patricia Clarkson, Frank Langella, Jeff Daniels, Thomas McCarthy. 93 minutos. Gênero: Drama/Histórico.

Nota: 9.0

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Gotan Project no MIMO 2011


Conheci o Gotan Project em uma viagem que fiz há um ano a Buenos Aires, e ontem, tive a oportunidade de presenciar um bom show da banda na Mostra Internacional de Música em Olinda. Banda idealizada por um suíço, um francês e um argentino que tem como proposta reiventar o tradicional tango com arranjos eletrônicos. Interessante que o grupo também investe em uma identidade visual marcante, seja nos shows, seja nos seus videoclipes. A apresentação de ontem contou com sucessos como: "Una Musica Brutal", "Epoca", “Queremos Paz”, “Diferente”, “Santa Maria” e “Mi Confesión”.